ongnews - Notícias do Terceiro Setor

Brasil corta verba para prevenção de desastres em 2025, diz Inesc

No ano da COP 30, estudo aponta que arcabouço fiscal reduz verba orçamentária para adaptação climática e prevenção de desastres

No ano em que o Brasil sediará a Conferência do Clima (COP 30), a expectativa era de que o orçamento público refletisse maior compromisso com a prevenção de desastres, especialmente após os eventos climáticos extremos que marcaram 2024. No entanto, o movimento foi contrário: o Congresso aprovou, para 2025, uma redução ainda mais acentuada nos recursos destinados à gestão de riscos e desastres urbanos. O Programa 2318, responsável por essa área, teve sua dotação reduzida de R$ 1,75 bilhão — valor proposto pelo Executivo no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) — para R$ 1,37 bilhão na versão final da Lei Orçamentária Anual (LOA), um corte de R$ 380 milhões.

Vale lembrar que o programa já havia sofrido um corte de R$ 200 milhões no PLOA de 2025 em relação ao de 2024.

Os dados fazem parte do relatório “Orçamento e Direitos: balanço da execução de políticas públicas (2024)”, divulgado hoje pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). O estudo analisa a execução orçamentária do governo federal em dez áreas consideradas prioritárias para a organização: panorama econômico, educação, cidades e adaptação climática, transição energética, meio ambiente, povos indígenas, quilombolas, igualdade racial, mulheres, e crianças e adolescentes.

No capítulo “Cidades e adaptação climática”, o Inesc destaca que em 2024, o governo precisou liberar R$ 5 bilhões em créditos extraordinários para lidar com os impactos das tragédias climáticas — quase três vezes mais que o orçamento inicialmente previsto para a área. Segundo o estudo, com o corte para 2025, o governo assume que a resposta aos desastres, quando ocorrerem, continuarão financiadas por recursos extraorçamentários em 2025.

“A atuação reativa e paliativa do orçamento público via créditos é muito ruim, pois trata-se de um recurso sem planejamento, instável, e que pode e tem sido modificado a partir da conjuntura, das emergências e do jogo político”, lamenta Sheilla Dourado, assessora política do Inesc.

O relatório do Inesc levanta a hipótese de que o governo esteja recorrendo aos créditos extraordinários como uma estratégia para driblar as restrições impostas pelo Novo Arcabouço Fiscal (NAF). Com a nova regra, políticas de adaptação climática e prevenção a desastres disputam espaço no orçamento com áreas como saúde e educação, o que tem comprometido o planejamento de longo prazo.

Embora o investimento no programa específico de gestão de riscos e resposta a desastres tenha sido insuficiente, houve aumento de recursos orçamentários em outro programa voltado à melhoria da infraestrutura urbana, que contempla ações de prevenção. No caso do programa Cidades Melhores, o valor autorizado para 2025 aumentou significativamente em relação a 2024, passando de R$ 141 milhões para R$ 490 milhões.  O relatório também chama atenção para a implementação, a partir de 2025, do Programa Cidades Verdes Resilientes e da iniciativa AdaptaCidades, ambos com medidas voltadas à adaptação climática nos centros urbanos. Contudo, a maior parte do financiamento previsto para as iniciativas é via empréstimo, uma barreira para muitos municípios que não têm capacidade financeira para contrair dívidas.

“Conseguimos perceber um esforço do governo em construir políticas para a adaptação climática, mas faltam articulação entre elas e investimentos robustos. A escassez de orçamento e os entraves da atual governança climática interfederativa comprometem a posição de liderança global no debate climático que o Brasil poderia assumir, especialmente no ano em que sediará a COP 30”, alerta Sheilla.

Queda de recursos para mobilidade urbana

De acordo com o Inesc, a mobilidade urbana também sofreu cortes expressivos. O relatório atesta que houve uma redução de 80,6% dos recursos autorizados em 2024 em comparação a 2023 — passando de R$ 6,7 bilhões para R$ 1,3 bilhão. Além disso, apenas 18% desse valor foi efetivamente executado em 2024. Vale lembrar que, neste mesmo ano, foram pagos R$ 1,98 bilhão em restos a pagar de exercícios anteriores, o que elevou a execução financeira total da área para R$ 2,21 bilhões.

Com cerca de 200 páginas, o relatório apresenta uma análise detalhada da execução orçamentária por função e programa. Entre as recomendações do Inesc estão a revisão do arcabouço fiscal, o aumento da transparência nas emendas parlamentares e a criação de fontes permanentes para políticas redistributivas.

(Assessoria de Imprensa)

Compartilhe esta postagem

WhatsApp
Facebook
LinkedIn

acompanhe nossas

outras notícias

plugins premium WordPress