O mês de janeiro marca o início de um novo ciclo e, com ele, surge a oportunidade de refletir sobre hábitos, emoções e a qualidade de vida mental. É nesse contexto que acontece o Janeiro Branco, campanha dedicada à conscientização sobre a saúde emocional e à importância de combater o estigma em torno das questões psicológicas. O Instituto Bem do Estar, organização sem fins lucrativos que atua na promoção do bem-estar mental, reforça a necessidade de ampliar o debate sobre o tema e incentivar o letramento socioemocional. Com um olhar voltado especialmente para mulheres, jovens e pessoas LGBTQIAPN+, a instituição busca criar espaços seguros para a troca de experiências, promovendo o autoconhecimento e a valorização da diversidade.
Por meio de suas iniciativas, a organização desenvolve ações voltadas tanto para a educação emocional quanto para a sensibilização da sociedade. Além disso, realiza atividades vivenciais que auxiliam na compreensão e gestão das emoções, além de campanhas que visam desconstruir paradigmas e fomentar redes de apoio. Em entrevista, a Diretora Executiva e Co-Fundadora do Instituto Bem do Estar, Isabel Ginefra Toni Marçal, compartilha detalhes sobre o dia a dia da instituição e seu compromisso com a pauta.
Nota Social: Como surgiu o Instituto Bem do Estar?
Instituto Bem do Estar: Unidas pela vontade de falar mais, ouvir mais, até que a saúde da mente se torne parte do dia a dia das pessoas, Isabel Marçal – que enfrentou duas depressões – e Milena Fanucchi, que convive diariamente com a ansiedade, tinham uma busca em comum: o bem-estar mental. A sinergia e a curiosidade, conduziram ambas à descoberta da Psicologia Positiva, uma abordagem que foca na saúde, ao invés de se concentrar nas doenças. Além disso, perceberam que, de um lado, as informações sobre o bem-estar mental eram escassas; de outro, havia um aumento alarmante dos casos de ansiedade e depressão no Brasil e no mundo. Assim, em agosto de 2018, fundaram o Instituto Bem do Estar com um grupo de pessoas diversas, que se tornaram associados e conselheiros. Organização sem fins lucrativos, a iniciativa tem como foco a promoção da qualidade de vida mental. O nome “Bem do Estar” reflete a importância de viver o agora e acolher a impermanência, o bem do estar presente.
Para alcançar esses objetivos, uma equipe multidisciplinar especializada desenvolveu uma metodologia única que combina arte, consciência corporal, Psicologia Positiva, terapia cognitivo-comportamental e atenção plena. Ao longo dos primeiros anos, a instituição alcançou conquistas significativas. São mais de 8.000 pessoas beneficiadas diretamente com letramento socioemocional, 1 milhão de pessoas impactadas indiretamente e mais de 60 ações vivenciais de promoção do bem-estar mental.
A organização também faz parte de Redes parceiras e é um dos fundadores do Vertentes – Ecossistema de Saúde Mental, que se dedica ao advocacy da saúde psíquica como um direito humano fundamental. Além disso, colabora com comunidades de base, fortalecendo o território onde as intervenções são realizadas. A organização acredita que somente pela colaboração em rede alcançaremos transformações sociais sistêmicas. Afinal, o bem-estar emocional é uma responsabilidade coletiva e o bem-estar mental deve ser promovido em conjunto, reconhecendo que é um problema que afeta a todos.
NS: Quais são os principais projetos que marcaram a trajetória do Instituto e contribuíram para o fortalecimento de sua atuação no Terceiro Setor?
IBE: Desde nossa fundação em 2018, quando saúde mental ainda era um tema pouco discutido, incentivamos as pessoas a cuidarem da própria saúde emocional. Em 2021, com o aumento da atenção à saúde psíquica impulsionado pela pandemia, ampliamos nossa atuação para incluir o letramento socioemocional. Atualmente buscamos fortalecer estratégias de mobilização e comunicação para aumentar nosso impacto e responder às crescentes demandas da sociedade. São elas: Letramento Social e Advocacy.
No letramento social, fazemos atividades vivenciais e imersivas que ensinam a reconhecer, compreender e gerenciar as emoções, impulsionando o autoconhecimento e o cuidado com a saúde emocional – e criando um ambiente seguro de troca e valorização do indivíduo e suas potências plurais. Além disso, levar informação sobre os transtornos da mente e favorecer mudanças de paradigmas sociais.
- Jornada do Estar: encontros imersivos que estimulam o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, através da arte e de práticas de autocuidado, como o Jornada do Estar: Favelinhas | Projeto Viela, Conheça a Jornada do Estar e a Jornada Ser Mulher.
- Workshops: palestras com práticas que abordam temas voltados à promoção em saúde mental, fomentando mudanças de comportamento em relação ao tema.
- Estar na Escuta: ação que visa proporcionar um momento de promoção da saúde psicológica de forma coletiva, conscientização e acolhimento individual através da escuta ativa, e do discurso sobre a importância de pensar e agir em prol da saúde da mente. www.bemdoestar.org/estar-na-escuta
Já no advocacy, possuímos ações que visam informar e sensibilizar a sociedade sobre a importância do cuidado com a saúde mental, incentivando mudanças de comportamento que contribuam para o bem-estar mental dos indivíduos e a diminuição do estigma. Além de fomentar atividades em rede para unir forças e gerar transformação sistêmica.
- Materiais educativos: conjunto de publicações, como artigos, cartilhas e ebooks, com o objetivo de gerar conhecimento e engajar a audiência, focando na disseminação de conteúdo e informações de maneira objetiva e compartilhável, visando atingir um amplo público.
- Pesquisas: evidenciar e produzir dados de qualidade sobre o contexto sobre saúde da mente e o impacto na sociedade, gerando estatísticas via pesquisas de opinião. www.bemdoestar.org/sociedade-de-vidro
- Atuação em rede: fortalecer e fomentar redes ativas e eficientes para articular agentes privados e públicos, visando a mudança coletiva em prol das ações de bem-estar psicológico.
NS: De que forma o letramento socioemocional é integrado às ações de conscientização que vocês promovem?
IBE: Ele está no coração das nossas ações. Promovemos atividades vivenciais que ajudam as pessoas a reconhecer, compreender e gerenciar suas emoções, estimulando o autoconhecimento e criando ambientes seguros de troca e valorização das diversidades individuais. Além disso, levamos informações sobre transtornos mentais para favorecer mudanças de paradigmas sociais. Um exemplo claro são as Jornadas do Estar, encontros imersivos que, por meio da nossa metodologia própria, incluindo arte e de práticas de autocuidado, incentivam o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e geram transformações significativas nos participantes. Abaixo alguns depoimentos:
“Esse projeto salva vidas, vocês são incríveis” — participante da Jornada do Estar.
“Foi incrível, me ajudou muito a identificar os meus sentimentos e a me conhecer mais. Me senti muito acolhida.” — participante da Jornada do Estar
“Fez muita diferença, tanto na vida deles, como na minha também, que estava assistindo. E, com certeza, o curso como um todo ajudou eles a ser um grupo mais unido.” – coordenadora do Projeto Viela
“Descreveria como fascinante, me deu sede de autoconhecimento.” — participante da Jornada.
NS: Quais são os maiores desafios que a organização enfrenta ao lidar com o estigma relacionado à saúde mental?
IBE: Um dos maiores desafios que enfrentamos é a ideia enraizada de que saúde mental está sempre ligada à doença. Muitas pessoas têm receio de mostrar vulnerabilidades por medo de julgamento, o que cria uma barreira para diálogos abertos e transformadores, principalmente nas populações em vulnerabilidade social e as populações mais acometidas por transtornos mentais (jovens, mulheres e pessoas LGBTQIAPN+). Nosso papel é justamente criar ambientes seguros de troca nessas comunidades, onde as conversas possam acontecer de forma acolhedora e sem preconceitos. Ao promover o letramento socioemocional, buscamos mostrar que cuidar da saúde psíquica é para todos, não apenas para quem enfrenta crises, e que a vulnerabilidade pode ser um caminho para o fortalecimento pessoal.
NS: Para você, qual a importância do Janeiro Branco para a promoção da saúde mental no Brasil?
IBE: O Janeiro Branco é importante por fomentar a conscientização sobre bem-estar psicológico, sendo um ponto de partida para ampliar o diálogo sobre o tema. No entanto, para nós, essa é apenas a primeira etapa. Acreditamos que é fundamental ir além das campanhas gerais e investir em letramento socioemocional — uma educação focada no fortalecimento emocional, e não na doença. Como o movimento não atende completamente os públicos com quem trabalhamos, desenvolvemos conteúdos específicos, como o Ser Mulher e o Ser LGBTQIAPN+, além de atividades vivenciais que quebram paradigmas e promovem transformações individuais significativas.
NS: Existe alguma campanha que o Instituto está desenvolvendo durante o Janeiro Branco deste ano?
IBE: Durante o Janeiro Branco deste ano, o Instituto Bem do Estar está levantando a reflexão sobre a conexão entre saúde emocional e mudanças climáticas. Acreditamos que o impacto das mudanças climáticas na nossa saúde emocional não pode ser ignorado. Os fenômenos climáticos, como calor extremo ou desastres naturais, afetam nosso humor, nossas relações e podem desencadear transtornos emocionais. Por isso, estamos estimulando a reflexão sobre como fortalecer nossos laços sociais e promover ações coletivas que, além de cuidar do planeta, também cuidam da saúde psíquica. Em tempos de crise ambiental, as conexões humanas se tornam ainda mais essenciais para o nosso bem-estar coletivo.
NS: Como a sociedade pode se engajar ativamente na promoção do bem-estar emocional e no apoio a instituições como a sua?
IBE: A sociedade tem um papel crucial na redução do estigma relacionado à saúde mental, principalmente ao compreender que ela não é apenas a ausência de doenças, mas um fator essencial para o bem-estar de todos. É fundamental que empresas e o governo comecem a olhar para o bem-estar psicológico com a seriedade que ela merece, investindo em ações de prevenção, educação e apoio. As campanhas e iniciativas para desconstruir preconceitos precisam de mais apoio e financiamento. Para instituições como a nossa, esse apoio pode vir por meio de doações, compartilhamento de conteúdos e engajamento em ações voluntárias.
NS: Quais são os planos futuros do Instituto para expandir o impacto das suas ações e alcançar mais pessoas em situações de vulnerabilidade?
IBE: Até o momento, impactamos diretamente 8 mil pessoas, mas sabemos que há muito mais a fazer. Nossa prioridade agora é expandir nossas atividades, intensificando nosso trabalho nos territórios e com comunidades em vulnerabilidade. Além disso, com a atuação em rede, queremos ampliar a discussão sobre políticas públicas de saúde mental, buscando influenciar decisões que envolvem direitos humanos e a promoção do bem-estar coletivo. Antes de mais nada, precisamos atingir a sustentabilidade financeira da organização, com novas parcerias e doações de pessoas físicas e jurídicas, como esta campanha que está na Vakinha (https://vakinha.bio/5046202), para assim garantir que possamos continuar transformando vidas e impactando mais pessoas.
NS: Como é possível doar ou se voluntariar na organização?
IBE: O Instituto Bem do Estar conta com doações e patrocínios de indivíduos e empresas para manter nossas atividades de cunho social. Embora nosso trabalho não tenha custo para as comunidades atendidas, ele envolve despesas significativas para seu desenvolvimento e implementação. Contamos com uma equipe especializada de colaboradores e voluntários para realizar nossas ações.
Se você é pessoa jurídica, acesse www.bemdoestar.org/empresas.
- Doador: investindo recursos financeiros no Instituto ou em projetos específicos
- Marketing relacionado à causa: destinando uma porcentagem do lucro de um produto ou serviço ao Instituto.
- Produto social: comprando nossos produtos personalizados
- Colaborador: oferecendo seus serviços ou produtos de forma “pro bono”*, para gestão, estratégia e/ou projetos institucionais
- Apoiador: divulgando ou compartilhando nossos projetos e o Instituto Bem do Estar
- Leve o Bem do Estar para sua empresa: contratando nossos serviços. Os recursos provenientes dessas atividades são revertidos 100% para nossas ações sociais.
Se você é pessoa física, entre em www.bemdoestar.org/colabore.
- Doador: fazendo uma doação pontual ou mensal para o Bem do Estar
- Produto social: comprando nossos produtos personalizados
- Voluntário: nos apoiando com seu trabalho, engajamento e divulgação.
Para saber mais sobre a organização, acesse Instituto Bem do Estar.
(Amanda Maciel, do Nota Social)