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Saiba quais políticos teriam antepassados ligados à escravidão

Projeto Escravizadores, da Agência Pública, encontrou 33 autoridades do primeiro escalão com antepassados diretos ligados à escravidão

Um levantamento inédito da Agência Pública revela algo em comum no passado de um quinto dos senadores, quase metade dos governadores e metade dos presidentes da república desde a ditadura. Todos eles têm antepassados diretos que teriam sido donos de pessoas escravizadas, utilizaram mão-de-obra escravizada ou atuaram para conter revoltas de pessoas negras e pobres durante o Brasil colonial e no Império.

É isso que revela o projeto Escravizadoresfeito pela Agência Pública com apoio do Pulitzer Center e lançado nesta terça-feira, 19/11.

Ao longo de um ano, a equipe da Pública trabalhou em parceria com pesquisadores acadêmicos e traçou a árvore genealógica de cada um desses presidentes e ex-presidentes, governadores e senadores para ver se algum antepassado direto teve relação comprovada com a escravidão. 

O projeto Escravizadores revela que 33 de 116 autoridades que investigamos têm algum antepassado que teria relação com a escravidão. Muitos dos políticos sequer conheciam seus antepassados ou mantêm relação próxima com a sua linhagem.

“A investigação foi um desafio jornalístico devido à complexidade da pesquisa, que envolveu centenas de antepassados, dificuldade de acesso a documentos históricos e falta de padronização dos registros de pessoas escravizadas. Por outro lado, o trabalhou surpreendeu ao encontrar linhagens de políticos que se perpetuaram durante séculos no poder e pela abundância de figuras históricas, algumas delas tratadas com reverência na historiografia, que tinham registros de posse de pessoas escravizadas sem que isso fosse de conhecimento geral”, explica Bruno Fonseca, chefe de redação da Agência Pública.

A pesquisa usou técnicas de Open Source Intelligence (OSINT) na busca por nomes desses antepassados. As fontes foram diversas: registros paroquiais de batismo e casamento, certidões de nascimento e óbito, jornais antigos em hemerotecas e arquivos públicos, artigos, teses e dissertações acadêmicas. Além da busca por registros em sites de genealogia familiar, posts em redes sociais e pronunciamentos dos políticos mencionados no projeto.

No site da Pública será possível acessar uma página especial interativa, onde o leitor vai encontrar a genealogia de cada político com antepassado que estaria ligado à escravidão. Além disso, serão publicadas uma série de reportagens que se aprofundam em determinados casos, como os dos ex-presidentes Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, José Sarney e Itamar Franco.

Uma das reportagens da série mostra a dificuldade de ter acesso a informações sobre antepassados de pessoas negras e indígenas. A apuração mostra a falta de dados como sobrenome, origem e descendentes de ancestrais negros libertos ou pessoas escravizadas. Geralmente, essas pessoas eram citadas nos documentos aos quais a Pública teve acesso apenas pelo primeiro nome ou por uma alcunha.

A pesquisa também encontrou uma desigualdade na padronização dos registros históricos sobre a escravidão. Alguns estados têm registros digitalizados com possibilidade de consulta online, como os censos populacionais de Minas Gerais. Em outros estados, como São Paulo, os dados do censo estão em imagens de difícil leitura. Isso produziu diferentes níveis de acesso às informações e de possibilidades de cruzamento com antepassados de políticos em determinadas regiões.

Por isso, pode haver casos de autoridades que não entram no levantamento final como descendentes de pessoas escravizadoras, mas que teriam antepassados que se encaixariam nessa classificação, aumentando ainda mais o número de políticos atuais com vínculos familiares com a escravidão. O projeto Escravizadores quer seguir pesquisando essas conexões. Nosso objetivo é investigar ainda o Judiciário e outras autoridades do Executivo e Legislativo, como os deputados.

Parcerias com universidades

Para o projeto Escravizadores, a equipe da Pública contou com o apoio de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A redação se dedicou ao levantamento das genealogias ao longo de um ano. Também participaram pesquisadores em Genealogia, Arquivologia e História de outras instituições, como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de Alagoas (UFAL), além de outras instituições de ensino e pesquisa.  

Sobre a Agência Pública – A Agência Pública foi fundada em 2011 por jornalistas mulheres e tem como missão produzir reportagens de fôlego pautadas pelo interesse público, sobre as grandes questões do país do ponto de vista da população – visando o fortalecimento do direito à informação, à qualificação do debate democrático e a promoção dos direitos humanos. Em 2022, nossas reportagens foram reproduzidas por cerca de 700 veículos, sob a licença creative commons. A Agência Pública ganhou mais de 70 prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio Vladimir Herzog, Prêmio República e Prêmio Gabo. https://apublica.org

Fonte: Agência Pública

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