*Pollyana de Freitas Andrade Miguel
A passagem entre gerações de valores, culturas, e, até mesmo, missão e profissão, são temas estudados no campo da transmissão familiar. Dentre outros estudiosos sobre o tema, as renomadas pesquisadoras e profissionais de psicologia, Adriana Wagner e Denise Falcke, falam sobre essa “transgeracionalidade”. O termo é definido por elas como algo que representa “processos que são transmitidos pela família de uma geração para outra e se mantém presentes ao longo da história familiar”. Ou seja, experiências que envolvem a cultura, a moral e os valores das gerações.
Quando observamos como, em muitos casos, as lideranças das organizações sociais são transmitidas entre gerações, conseguimos compreender que não se trata apenas de uma dinâmica profissional. Versa-se sobre valores, visão de mundo e propósitos sendo transmitidos de um pai ou uma mãe para seus
filhos. Trata-se sobre transgeracionalidade.
Ao aprofundarmos ainda mais o olhar, o que vemos é um setor que já traz, em sua essência, o senso de propósito como propulsor das operações. Se o propósito é algo inerente a cada ser humano, é natural que lideranças sociais sejam escolhidas por terem afinidades com a organização. E, qual seria o caminho mais lógico para encontrar tais líderes com propósitos alinhados? Não seria buscando quem já vivenciou e imprimiu a si mesmo a cultura, a moral e os valores que tangibilizam os propósitos organizacionais?
Foi essa lógica que levou a Rede Feminina de Combate ao Câncer a convidar Larissa Bezerra para assumir a coordenação da organização. Larissa cresceu no contexto do trabalho social empreendido por sua mãe nesta organização sem fins lucrativos, que trabalha dentro do Hospital de base de Brasília apoiando pacientes que estão com câncer. Ela naturalmente já tem alinhamento cultural, moral e de valores com a organização. Mas claro, essa correlação só foi tão forte porque Larissa se interessou pelo trabalho social da
mãe, se envolveu e se profissionalizou.
Portanto, existe um importante processo de tomada de decisão da geração atual durante a transmissão familiar. Assim como é possível que pessoas que não estão imersos na transgeracionalidade também se alinhem a propósitos de organizações do terceiro setor. Tal condição ocorreu com Vicente Sebastião, Vice-presidente da Associação dos Servidores Inativos e Pensionistas do Senado Federal, apoiadora da Rede Feminina de Combate ao Câncer. Atualmente, Vicente e Larissa atuam juntos no apoio a pessoas com câncer do Distrito Federal. Cada um com sua trajetória, mas ambos com algo claro: a missão social.
A reflexão sobre a transmissão familiar, processos de tomada de decisão e lideranças no terceiro setor nos mostra que o horizonte de chegada pode ser tão importante, ou até mais, do que o ponto de partida. Afinal, o mais importante do ser humano é como ele internaliza sua história, aprende e trabalha para aperfeiçoar o mundo.
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*Pollyana de Freitas Andrade Miguel
Pollyana é escritora e consultora em gestão estratégica, impacto social e mobilização de recursos, atuando principalmente com investimento social privado. Trabalhou em diferentes organizações, incluindo ONU, Governo Federal e Sistema S. É autora de livros e métodos neste campo de atuação.
Instagram: @pollydeandradeinside
Site: www.iandenegocios.com
Para acompanhar o quadro Sua história inspira: www.youtube.com/c/DosesMilionárias
Para acessar pesquisas sobre transmissão familiar:
Revista 18.1 – 3a prova.p65 (bvsalud.org) e Continuidade dos estilos parentais através das gerações